Vai um pão com manteiga?

FONTE DE NUTRIENTES DE ALTO VALOR BIOLÓGICO E ENERGIA, A PROTEÍNA FAZ PARTE DA NOSSA HISTÓRIA, COMO NA CONSTRUÇÃO DA CATEDRAL DE ROUEN, NA FRANÇA

Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

2023-04-29T07:00:00.0000000Z

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OPINIÃO ∣ ∣ IDEIAS | LUIZ JOSAHKIAN

Aorigem da manteiga se perde nos primórdios da humanidade. Não há registros claros de onde e quando começamos a utilizá-la. Contudo, marcos históricos de antigas tribos da Europa Oriental já mencionavam o seu uso e, na Índia, o ghee (um tipo de manteiga clarificada) fazia parte das oferendas a Krishna há mais de 3 mil anos. Há até mesmo citações no Livro de Gênesis sobre a manteiga. Fonte de nutrientes de alto valor biológico e de energia, a manteiga esteve presente na nossa caminhada evolucionária. Sua importância pode ser percebida até por fatos curiosos, como o ocorrido na idade média. Até o ano de 1600, o consumo de manteiga era proibido durante a quaresma. Para escapar dessa proibição, os ricos pagavam para obterem uma santa indulgência para consumir manteiga. O valor arrecadado foi tão alto que possibilitou a construção de uma imponente torre na famosa catedral de Rouen, na França, conhecida como a Torre de Manteiga. Foi somente em 1869 que surgiu o primeiro concorrente direto da manteiga, a margarina. Ela surgiu na França como resultado de um concurso lançado por Napoleão III, com o objetivo de encontrar um sucedâneo mais barato e abundante que a manteiga. Suas primeiras versões não tinham origem vegetal, mas sim subprodutos de origem animal. Somente depois da descoberta da técnica de hidrogenação, que permite transformar óleo líquido em sólido, é que as margarinas começaram a ser produzidas a partir de fontes vegetais. Quase um século mais tarde, nos anos 1940, alguns estudos – hoje controversos – indicaram que o consumo de gordura de origem animal era maléfico para a saúde humana. Isso foi amplificado pela mídia e apoiado pela indústria de margarina, o que levou a um decréscimo no consumo de manteiga, uma tendência que persiste até os dias atuais. Porém, o tempo mostrou que, embora o consumo de manteiga tenha diminuído e o de margarina aumentado, as doenças degenerativas e as mortes por problemas coronários não diminuíram, pelo contrário, aumentaram exponencialmente. Sem dúvida, é preciso analisar melhor essa questão. A manteiga, como alimento, é ótima fonte de nutrientes. Para começar, ela é rica em vitamina A de fácil absorção, necessária para uma boa visão, funcionamento da tireoide e das suprarrenais, patrulheiras do bom funcionamento do coração e do sistema cardiovascular. Ao lado da vitamina A, fornece a vitamina E, que, juntas, combatem os radicais livres no nosso organismo. É também fonte de lecitina, que atua no controle do colesterol. Mais recentemente foi descoberto o fator Wulzen. O fator Wulzen está presente somente na manteiga e atua como um inibidor da calcificação das articulações e do surgimento da catarata. Infelizmente, ele é quase destruído durante o processo de pasteurização e é reduzido quando proveniente de leite de vacas confinadas. A manteiga derivada de leite cru e de vacas a pasto é mais rica nesse nutriente. Dessa forma, consumi-la com moderação é recomendável, a não ser para aqueles que tenham dietas restritivas ou, caso existam, para aqueles que não apreciam a boa e velha manteiga. E aí, vai um pão com manteiga?

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