Revista Globo Rural

A ERA DOCARBONO

MERCADO BILIONÁRIO DESPONTA COM O POTENCIAL DE VENDA DE CRÉDITOS PARA COMPENSAÇÃO DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA PELOS PAISES PRODUTORES DE PETRÓLEO

EDSMAR RESENDE, cofundador da gestora 10b

OAGRICULTOR CASSIO KOSSATZ, DE PONTA GROSSA (PR), e o pecuarista Edgar Luiz Fedrizzi Filho, de Cascavel (PR), estão distantes 400 quilômetros, mas têm em comum um ideal que os aproxima. Ambos investem na produção sustentável, em busca da redução das emissões de gases de efeito estufa, embora ainda não sejam remunerados pelo sequestro de carbono.

Eles estão no caminho certo, como mostram os dados de um relatório elaborado pela consultoria McKinsey, que prevê uma demanda por crédito de carbono voluntário no Brasil de até US$ 200 milhões em 2030, levando em conta apenas os atuais compromissos das empresas mapeadas pelo estudo.

Os autores do relatório salientam que, conforme novos compromissos forem anunciados, a demanda por crédito de carbono dentro dos diferentes cenários de oferta e preço pode representar um mercado de US$ 1,5 bilhão a US$ 6 bilhões no país.

O estudo da McKinsey diz que, do potencial brasileiro, aproximadamente 80% são projetos de restauração florestal em áreas de pastagem degradadas. Ao preço do crédito a US$ 30 a tonelada equivalente em 2030, a consultoria calcula que o Brasil poderia capturar carbono em 85 milhões de hectares, o que corresponde a aproximadamente 50% da área de pasto atual.

Outro estudo, feito pela Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil) e pela consultoria WayCarbon, projeta que o Brasil pode atender até 48,7% da demanda global do mercado voluntário e até 28% do mercado regulado e chegar a uma oferta capaz de atingir US$ 120 bilhões desses créditos até 2030.

Somente em 2021, o país foi responsável por 12% da oferta global de créditos de carbono (foram 10% no ano anterior). As estimativas fazem parte da publicação

Oportunidades para o Brasil em mercados de carbono, elaborada pela empresa em parceria com o ICC.

Quem já convive com a realidade

desse setor é a MyCarbon (uma divisão da Minerva Foods), que em outubro do ano passado marcou presença no maior leilão de crédito de carbono do mercado voluntário já feito no mundo, realizado na Arábia Saudita. Em fevereiro deste ano, a MyCarbon retornou ao Oriente Médio, desta vez, para exibir na feira Gulfood, em Dubai, seu produto sustentável. Trata-se da carne brasileira produzida com carbono zero.

A escolha de Dubai não é por acaso. Não é também por acaso que a Arábia Saudita atue como o centro dos interesses das empresas brasileiras no mercado de carbono. Com seus campos de petróleo e suas refinarias poluidoras, os países árabes serão os maiores demandadores de créditos para compensar as emissões de gases de efeito estufa. "Quem tem dinheiro e precisa compensar as emissões de carbono? A Arábia Saudita”, alerta Edsmar Resende, cofundador da gestora 10b e conselheiro da Agrivalle.

A MyCarbon foi pioneira ao participar do primeiro leilão de crédito de carbono do Oriente Médio, no qual 1,4 milhão de toneladas foram negociadas. A empresa foi responsável pela geração e comercialização de créditos e vendeu 20% do total negociado, ou 280 mil toneladas. O leilão contou com oferta de crédito de mais de 15 países.

“O agronegócio poderá ter linhas de receitas que não sejam apenas a produção agrícola e a pecuária tradicional”

POLÍT∣CA ∣ ENTREVISTA

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2023-03-06T08:00:00.0000000Z

2023-03-06T08:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/282492892908546

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