Revista Globo Rural

AGRICULTURA

PRODUTORES EM GOIÁS INVESTEM NA AGRICULTURA REGENERATIVA PARA RECUPERAR ÁREAS DEGRADADAS

por NAIARA ALBUQUERQUE, de Cristalina (GO)

NO CORAÇÃO DO AGRONEGÓCIO DE GOIÁS, em Cristalina, o trabalho do engenheiro agrônomo William Matté vem ganhando força e reconhecimento. Ao lado dos irmãos Franciele e Gustavo, ele administra um negócio que, atualmente, vem sendo usado como exemplo da chamada agricultura regenerativa, conceito que veio para ficar e que pode ser aplicado em pequenas e grandes propriedades.

A Fazenda Alvorada tem 2 mil hectares, onde são cultivados milho, soja, trigo, girassol, hortaliças e plantas para cobertura do solo. Foi nessa propriedade rural que a família começou a aplicar as técnicas regenerativas, com atenção especial para a saudabilidade do solo. Os Matté decidiram produzir hortaliças em uma área já deteriorada pelo cultivo da soja.

O clima do Cerrado é extremamente seco, e o período chuvoso é curto, entre outubro e abril. A preocupação com a irrigação é algo latente na região. Por isso, a família Matté investiu na construção de pivôs para a captação de água ao redor da propriedade. Um dos principais capta 230 milhões de litros de água. Outro pivô, com capacidade para 500 milhões de litros, já está sendo construído.

A rotação de cultura também tem sido uma importante aliada na regeneração do solo. William Matté conta que eles dividem os experimentos com rotação em três áreas. A primeira é plantada com milho safrinha ou soja precoce. Na segunda área, é plantado um mix de culturas (nabo, trigo, aveia e centeio). A terceira área não recebe nenhuma cultura. Apenas uma forragem de palha, para a proteção do solo. A rotação com hortaliças também tem sido testada.

O manejo adotado pela família Matté se tornou objeto de estudo do gigante do setor alimentício General Mills, dona das marcas Yoki, Kitano e Häagen-Dazs. Produtores de milho-pipoca, batata, amendoim, mandioca e especiarias que fornecem para a empresa visitaram a fazenda, como parte de um treinamento de campo sobre técnicas de sustentabilidade na produção.

O intuito foi mostrar que a biodiversidade pode ser uma aliada importante entre as técnicas de produção sustentável. E o mais interessante: com melhora na produtividade, saúde do solo, e, consequentemente, mais renda no bolso dos produtores.

A explicação de Matté atraiu olhares de dúvidas dos produtores ao longo de todo o treinamento. Deixar uma área sem cultura alguma plantada é rentável? O experimento com os dados científicos das áreas medidos diariamente indicam que a resposta é sim.

Em 12 meses, a produtividade das lavouras de soja passou de 75 para 90 sacas por hectare. E a plantação dependeu menos do uso de defenivos químicos. Há quase um ano não se aplica o herbicida glifosato para controlar plantas daninhas na Fazenda Alvorada. A combinação de técnicas, a diversidade de culturas e microrganismos ajudaram a melhorar a oxigenação do solo e a fixação de carbono.

Em períodos de seca, é feita a utilização do chamado rolo faca, maquinário usado para amassar ou picar o resíduo de cobertura vegetal no solo, facilitando o plantio seguinte. O que, em última instância, explica Matté, diminui a necessidade de irrigação. “Não adianta ser uma técnica bonita, precisa ser rentável. Mas acredito que estamos no caminho”, diz.

Richard Borg é agrônomo e produtor de batatas. Já era fornecedor do produto para a marca Yoki desde antes da venda da empresa brasileira para a General Mills. Borg possui duas propriedades: uma em Castro (PR) e outra em Itapeva (SP). Juntas, somam 1,5 mil hectares.

O que mais chamou atenção do produtor foi a combinação de técnicas com irrigação, já que a batata é especialmente sensível ao déficit hídrico. Além disso, a rotação de culturas pode ser uma boa aliada para a preservação da saúde do solo.

“O maior desafio é encontrar espécies sinérgicas de coberturas verdes e que melhor se encaixem no plano geral de cultivo. De toda forma, queremos implementar o esquema de rotação de culturas em toda a fazenda a partir da próxima safra”, disse Borg.

A Agrícola Wehrmann, localizada em Cristalina, também recebeu a visita dos participantes do treinamento. A fazenda é uma evidência de que as técnicas de agricultura regenerativa podem ser aplicadas em grandes propriedades rurais, em sistemas produtivos de larga escala. A empresa cultiva alho, batata, cebola, soja e trigo com irrigação. E a utilização de agroquímicos é controlada.

Em 2021, a Wehrmann iniciou seu projeto de uma biofábrica, que saiu do papel neste ano. O manejo de bactérias para o controle biológico nas plantações já começou a ser feito e, no futuro, deve ser implantado também para fungos.

De acordo com os gestores do negócio, os custos com esse tipo de manejo caíram de forma expressiva. Enquanto o biológico comercial custa cerca de R$ 3 mil por hectare, o feito na fazenda sai por R$ 600 por hectare, estima a empresa.

A Wehrmann ainda emprega cerca de 2 mil funcionários nas colheitas. Nas contas da empresa, 700 são efetivos. Os demais, são safristas contratados de forma temporária, vindos, principalmente, da Região Nordeste, como Bahia, Ceará e Maranhão.

“Não adianta ser uma técnica bonita, precisa ser rentável. Mas acredito que estamos no caminho”

WILLIAM MATTÉ,

produtor de Cristalina (GO)

*A jornalista viajou a convite da General Mills

SUMÁRIO

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2023-03-06T08:00:00.0000000Z

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