Revista Globo Rural

FEIRAS

DIFICULDADE DE ACESSO A CRÉDITO LEVA PRODUTOR A NEGOCIAR COM MAIS CAUTELA NAS FEIRAS AGROPECUÁRIAS, ENQUANTO EMPRESAS BUSCAM OFERECER MELHORES CONDIÇÕES

Por CLEYTON VILARINO e RAPHAEL SALOMÃO

COMEÇOU A TEMPORADA DAS GRANDES FEIRAS DE TECNOLOGIA para a agropecuária. Nos imensos parques de exposições pelo Brasil, milhares de produtores rurais podem apreciar as novidades que a indústria oferece, sempre com a promessa de aumentar a eficiência do manejo, a produtividade e a sustentabilidade.

Máquinas, implementos, acessórios, sementes, fertilizantes, defensivos, silos e armazéns, irrigação, ferramentas. Como já é tradição, tudo está reunido com o objetivo de proporcionar aos visitantes acesso ao que há de mais avançado para aprimorar a produção.

Depois de um 2022 com recordes de volumes de negócios, as feiras deste primeiro semestre estão abrindo as portas em meio a um cenário de problemas climáticos em algumas regiões do país e de dificuldades de acesso a crédito a taxas mais favorecidas, principalmente para pequenos e médios produtores.

Pelo menos desde outubro do ano passado, financiamentos com juros equacionados pelo Tesouro Nacional no Plano Safra 2022/2023 têm sido suspensos. E, com uma taxa Selic de 13,75% ao ano, o crédito no mercado chega ainda mais caro, com taxas de até 17% ou 18% ao ano, a depender da linha.

Quem precisa investir em máquinas mais modernas e insumos mais eficientes para o campo e o meio ambiente tende a procurar nas feiras melhores oportunidades de negócio. Mas, diante da situação, deve tentar negociar condições ainda melhores e priorizar o que é mais necessário para garantir a boa produtividade.

“O produtor deve comprar só o que realmente tiver necessidade no momento, com recurso próprio ou por meio do sistema financeiro. Existe uma insegurança em relação a crédito. Os juros estão bem altos”, ressalta Dourivan Cruvinel de Souza, vice-presidente administrativo financeiro da Comigo, Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano.

Sediada em Rio Verde (GO), a cooperativa realiza, de 27 a 31 de março, a Tecnoshow, com a promessa de ser a maior vitrine de tecnologia para o agro no centro-oeste do país. A expectativa é receber mais de 130 mil pessoas para conhecer as novidades em produtos e serviços e também participar de eventos e palestras sobre temas importantes para o setor.

Neste ano, o evento completa 20 anos de uma trajetória de crescimento e ampliação de sua importância no calendário nacional de feiras agropecuárias. Em 2003, a feira reuniu 100 expositores e recebeu 16,5 mil visitantes. A movimentação de negócios foi de R$ 61 milhões. Na edição de 2022, foram 620 expositores e um público de 128 mil pessoas. O volume gerado de negócios foi recorde: R$ 10,6 bilhões.

Diante do cenário atual, o produtor rural deve manter “o pé no chão” ao avaliar os investimentos, afirma Souza, pontuando que os insumos estão com preços mais em conta, mas as máquinas estão mais caras. Ele destaca que, na região de Rio Verde, há muitos arrendatários, que sentem mais o aumento dos custos.

De qualquer forma, a expectativa da Comigo não deixa de ser otimista. Ele considera possível pelo menos manter ou até mesmo superar a Tecnoshow de 2022. Conta a favor a expectativa de uma boa colheita e o produtor, até certa medida, estar mais capitalizado.

“O produtor que precisar trocar uma máquina vai trocar. Ele sabe que, na feira, vai ter melhor oferta, porque a empresa quer fazer negócio, sabe que tem concorrente e que, se não tiver uma boa condição, vai ficar para trás”, avalia o vice-presidente da cooperativa.

No início de fevereiro, a falta de crédito subvencionado já caminhou lado a lado com os produtores rurais nos estandes do Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR). O evento, que realizou sua 35a edição, tradicionalmente abre o calendário das grandes feiras agropecuárias.

“Com as restrições de faturamento e de renda que nós tivemos, o produtor ficou um pouco deficitário em termos de capital de giro, e isso faz com que ele esteja apreensivo e segure o investimento”, ponderou, ainda no primeiro dia de Show Rural, o presidente do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Orso.

Com 600 expositores reunidos no mesmo lugar, produtores procuraram percorrer vários estandes em busca de melhores ofertas. Do outro lado do balcão, bancos, cooperativas e empresas buscavam mostrar o que tinham para oferecer para não deixar o cliente sair sem contrato na mão.

“Eles (expositores) sabem que para o mesmo equipamento tem três a quatro empresas e que vamos visitar todas, então, tem uma briga aí entre elas, seja em preço, condição de pagamento”, disse o avicultor Isidoro José de Oliveira, de Mundo Novo (MS), que foi até Cascavel para conhecer as novidades.

Ainda assim, o Show Rural 2023 não deixou de dar um sinal positivo. Os organizadores relataram uma movimentação de R$ 5 bilhões em negócios. O resultado superou a expectativa inicial, de R$ 4 bilhões. A feira de 2022 registrou negócios de R$ 3,2 bilhões. A 35a edição feira recebeu, em cinco dias, um público recorde de 384.022 visitantes

“Os resultados mostram a força do agronegócio e a confiança dos produtores rurais em uma cadeia produtiva fundamental para o Brasil e para o mundo”, afirmou o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli, em entrevista coletiva para apresentar o balanço do evento.

SUMÁRIO

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2023-03-06T08:00:00.0000000Z

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