Revista Globo Rural

BO∣ E LE∣TE

COM MAIS CARNE NO MERCADO, CONSUMO DEVE VOLTAR A CRESCER, MAS ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE PREÇOS DEVEM PERMANECER ALTOS NO BRASIL

Por CLEYTON VILARINO

TRAÇAR UM PANORAMA DE PERSPECTIVAS PARA A PECUÁRIA DE CORTE requer olhar para o passado, e não basta apenas analisar o ano que se encerrou, mas todos os anos que compõem o ciclo reprodutivo dos animais, período em torno de cinco a seis anos, que vai da prenhez à idade de abate.

Após iniciar o ano cotado em R$ 3 mil, o indicador do bezerro em Mato Grosso do Sul calculado pela Esalq/B3 encerrou 2022 com uma desvalorização acumulada de 16,7%. Embora acentuada, pode-se dizer que a queda já era esperada, diante da dinâmica do mercado pecuário. Com a valorização dos animais desde o final de 2019, aumentou a disponibilidade de fêmeas no campo, com maior produção na cria e, consequentemente, maior oferta dois anos depois.

“Os anos 2020 e 2021 foram anos de altas exuberantes e muito bem-vindas pelo produtor. Chamou a atenção da mídia porque o preço da carne subiu consideravelmente para o consumidor final, e foi isso que estimulou o pecuarista a reter as fêmeas”, explica Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto Consultoria. “Isso aumentou o número de ventres livres pra reprodução, trazendo essa enxurrada de bezerros que vemos agora. E, se eles têm de continuar o ciclo, isso significa uma enxurrada de bois nessa virada de 2022/2023”, completa.

“O pecuarista tem de lembrar de olhar sempre onde está o bezerro, pois ele conta o que vem pela frente em termos de expectativa para o boi gordo. Em 2022, a margem da cria caiu bastante, para níveis que não víamos desde a última crise, em 2016 e 2017”, pontua Lygia, ao classificar o ano de 2023 como “desafiador”. “Temos um cenário um pouco mais aliviado, em termos de custo de reposição, mas, como o preço do boi também caiu, isso não ajudou, e a margem vai continuar apertada.”

Para a indústria frigorífica, que tem no boi gordo 80% do seu custo de produção, os sinais de inversão de ciclo pecuário indicam uma melhora das margens após algumas empresas do setor amargarem níveis de ociosidade acima de 50% nos últimos anos. “Se não houver nenhum choque ou coisa diferente que possa atrapalhar, a tendência é termos um ano mais tranquilo e favorável ao setor, tanto do ponto de vista de aumento da produção quanto de recuperação de preços”, avalia o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga.

“Temos um cenário um pouco mais aliviado, mas, como o preço do boi também caiu, isso não ajudou, e a margem vai continuar apertada”

LYGIA PIMENTEL,

diretora da Agrifatto Consultoria

No caso do setor de lácteos, após um ano inteiro de forte volatilidade nos preços do leite, o que dificultou a vida do produtor, devido à alta nos custos de produção, a perspectiva para o mercado em 2023 é de maior previsibilidade. “Neste ano, possivelmente haverá uma melhora nos custos de produção, principalmente com alimentação. Há perspectiva para uma produção boa de soja na primeira safra, o que pode refletir no preço do farelo de soja, que é um insumo importante da alimentação proteica das vacas”, explica a analista da Scot Consultoria Jéssica Olivier, ao destacar a queda dos preços no primeiro trimestre, quando também há melhoria das condições das pastagens.

Segundo ela, os preços devem continuar caindo, e a produção tende a aumentar neste primeiro trimestre, podendo levar a recuos, porém bem menos expressivos, quando comparados com os últimos meses de 2022, período em que os preços saíram de quase R$ 3 para R$ 2,5 por litro “Foram anos e anos de preços com poucas variações expressivas como ocorreram em 2022. Normalmente, há uma certa previsibilidade, mas não foi o que aconteceu em 2022. A perspectiva é que a retomada da estabilidade ocorra neste ano”, completa.

SUMÁRIO

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2023-01-31T08:00:00.0000000Z

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

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