TR∣GO

COM A EXPANSÃO ACELERADA DA PRODUÇÃO NAS ÚLTIMAS SAFRAS, O BRASIL PROJETA SUPRIR A DEMANDA INTERNA EM MENOS DE CINCO ANOS, SEGUNDO A EMBRAPA

Vivemos um momento histórico, com a celebração da maior safra de trigo do Brasil, comemora Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo. Os resultados de 2022 bateram recorde, com mais de 9,5 milhões de toneladas do grão – crescimento de 24,4% em relação a 2021, quando a safra foi de 7,7 milhões de toneladas –, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Foi uma safra fantástica. Em menos de cinco anos, o Brasil será autossuficiente no trigo e, até 2030, devemos superar 20 milhões de toneladas. Ninguém nos segura mais”, projeta Lemainski.

O destaque na produção segue com o Rio Grande do Sul, com 4,7 milhões de toneladas, a maior safra do grão já registrada no estado, o que representa 44,7% do trigo nacional na safra 2022. Foi uma variação de 36,1% em relação à safra gaúcha anterior, que registrou 3,5 milhões de toneladas. O Paraná é o segundo maior produtor do grão, com 3,5 milhões de toneladas – ou 41,4% da produção nacional. O volume paranaense foi 9,6% maior em comparação à safra 2021, quando foram colhidos 3,2 milhões de toneladas de trigo no estado.

Em todo o país, a produção cresceu 76% nos últimos cinco anos. “O trigo fará o mesmo caminho que a soja e o milho no Brasil. Temos hoje uma safra com um produto de excelência, de qualidade, como os melhores trigos do mundo”, ressalta Lemainski.

As projeções da Embrapa Trigo consideram a linha de crescimento que vem sendo observada nos últimos anos. Em 2015, a produção nacional do grão foi de 5,5 milhões de toneladas, passando para 6,2 milhões de toneladas em 2020, chegando a 7,7 milhões de toneladas em 2021 e a 9,5 milhões de toneladas em 2022. De acordo com os pesquisadores, se a produção de trigo continuar crescendo 10% ao ano, o Brasil pode chegar a produzir 20 milhões de toneladas até 2030.

Com um consumo atual de 12,8 milhões de toneladas (estimativa de 2022), o volume será suficiente para atender à demanda interna e colocará o Brasil na lista dos principais países exportadores de trigo.

Estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apontam que o Brasil pode se tornar o décimo maior exportador da commodity ainda na temporada 2022/2023. Além da produção nacional crescente, a quebra de safra na Argentina e as tensões no Mar Negro, devido à guerra

“Temos hoje uma safra com um produto de excelência, de qualidade, como os melhores trigos do mundo”

JORGE LEMAINSKI,

chefe-geral da Embrapa Trigo

entre Rússia e Ucrânia, estão entre as razões apontadas para a projeção.

O Brasil central – área de Cerrado – também é considerado uma região promissora para o grão, assim como o Nordeste. Juntos, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e o Distrito Federal somaram em torno de 296 mil hectares de trigo na safra 2022, com produção que chegou a 840 mil toneladas. “O trigo começa a se consolidar também nessa região, que tem muito espaço para ampliar o cultivo do grão, que entra como opção após as culturas principais do milho e da soja”, explica Lemainski. A meta é ampliar em mais de 100 mil hectares a área de trigo na região nos próximos três anos, passando de 1,1 milhão de toneladas produzidas. “Serão 300 mil toneladas a mais, um impacto de R$ 500 milhões”, prevê.

O aumento da área nessas novas fronteiras tem sido prospectado pelo setor de pesquisa da Embrapa, visando à intensificação dos sistemas de produção agropecuária já existentes, com a introdução do trigo na rotação de culturas e o aproveitamento de áreas ociosas no inverno. A agenda na região conta com ações como organização de suprimentos de sementes e disseminação de boas práticas agronômicas.