Revista Globo Rural

FRUTAS

APÓS A QUEDA DAS EXPORTAÇÕES NO ANO PASSADO, SETOR APOSTA NA MELHORA DAS CONDIÇÕES INTERNAS, MAS A RETOMADA DO CONSUMO NA EUROPA AINDA PREOCUPA

Por ELIANE SILVA

OSETOR DE FRUTAS TEVE UM ANO DIFÍCIL, especialmente para as exportações, que fecharam 2022 com uma receita de US$ 1,076 bilhão, em queda de 11,6% em relação ao recorde de US$ 1,218 bilhão obtido em 2021. O volume embarcado recuou 16%, enquanto o preço médio registrou alta de 5,2%. Os dados são do Agrostat, o sistema de informações sobre comércio exterior do Ministério da Agricultura.

Já o montante gasto com as importações de frutas no ano passado cresceu 26% e somou US$ 719 milhões, enquanto o volume importado aumentou 34% e o preço médio recuou 6,3%. O destaque foi o aumento da importação de maçãs, que cresceu 143% em valor e 155% no volume desembarcado.

Nas palavras de Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), foi um ano de “tempestade perfeita”, com câmbio mais desfavorável, aumento dos custos de produção, além da seca que reduziu a produção de maçã no Sul e do excesso de chuvas que atrapalhou a qualidade da fruta do Vale do São Francisco.

Análise do Radar Rabobank aponta que o excesso de chuvas que ajudou no desenvolvimento das frutas cultivadas em sequeiro prejudicou a qualidade dos produtos da fruticultura irrigada, aumentando os custos de aplicações de defensivos e desregulando os ciclos produtivos da lavoura. Além disso, houve o entrave da logística, com aumento de até três vezes no preço do frete nos últimos dois anos, aliado à falta de contêineres e navios.

Tudo isso leva a uma projeção de que a partir de agora o cenário seja mais positivo. Para 2023, Luiz Roberto Barcelos, que é sócio da maior produtora e exportadora de melão do país, a Agrícola Famosa, prevê um ano melhor para o setor, já que os fretes começaram a baixar no fim de 2022, o euro se valorizou frente ao real e o clima está mais favorável no sul do país, embora a previsão seja ainda de muita chuva no Nordeste, na região do Vale do São Francisco.

Barcelos observa que a maior preocupação do setor diz respeito à queda no consumo de frutas na Europa, nosso maior mercado. "Esperamos uma recuperação em relação a 2022, mas o cenário ainda é

“Pela primeira vez, temos visto importadores europeus de frutas enfrentando problemas financeiros”

LUIZ ROBERTO BARCELOS,

presidente da Abrafrutas

muito incerto, com os aumentos da energia e da inflação e a guerra no Leste Europeu. Pela primeira vez, temos visto importadores europeus de frutas enfrentando problemas financeiros.”

A equipe do projeto Hortifrúti Brasil, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, também estima uma recuperação do setor de frutas em 2023, graças à expectativa de custos mais baixos e às melhores condições climáticas. No mercado interno, o que preocupa os analistas é a demanda, já que as incertezas político-econômicas ainda devem limitar as previsões de crescimento econômico. Nas exportações, as incertezas são as mesmas da Abrafrutas: aumento global da inflação e guerra entre Rússia e Ucrânia.

Na análise do Rabobank, o câmbio e o fenômeno La Liña, que começa a perder força neste ano, merecem atenção do setor, mas a redução dos custos dos fertilizantes pode resultar em margens melhores para o produtor: “O hedge de câmbio, principalmente euro e dólar, é crucial para minimizar a exposição ao descasamento de moedas entre as despesas e recebimentos, o que é fundamental para controlar os riscos em períodos de grande volatilidade como o atual.”

SUMÁRIO

pt-br

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/281706913823460

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.