Revista Globo Rural

CAFÉ

FALTA DE NÚMEROS CONFIÁVEIS EM RELAÇÃO ÀS ESTIMATIVAS DA SAFRA BRASILEIRA E AO CONSUMO MUNDIAL DIFICULTA PREVER O COMPORTAMENTO DO MERCADO EM 2023

Por VENILSON FERREIRA

Depois de atingir preços recordes no início do ano passado, o mercado de café começa 2023 pressionado pela indefinição em relação ao volume que será colhido na próxima safra e ao comportamento da demanda mundial, diante de um cenário de aumento da inflação e desaquecimento da economia global.

Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), observa que, nos últimos três anos, o mercado de café carece de informações confiáveis, principalmente no tocante à produção. Ele recorda que, na safra passada, a produção ficou abaixo das expectativas, devido à falta de chuvas e às geadas nas regiões produtoras de café arábica. Além de ter limitado a oferta em 2022, os problemas climáticos que castigaram os cafezais podem ter reflexo na safra atual.

O analista do Cepea diz que tem muitas dúvidas quanto à respostas das plantas que sofreram com falta de chuvas e geadas e que prefere esperar para saber como estará o enchimento dos grãos nos cafezais em fevereiro para ter mais clareza. “Os cafezais sofreram com falta de chuvas e muito calor. A safra de 2023 não deve ser tão boa quanto as duas últimas.”

Do ponto de vista da demanda, segundo Renato Ribeiro, existe uma incerteza em relação ao consumo mundial, por causa da inflação mundial e do crescimento mais modesto das principais economias. “O consumo de café tem mostrado resiliência, mas, com a economia mundial mais devagar, pode ter um crescimento pequeno e talvez nem cresça.”

Fernando Maximiliano, analista da consultoria Stonex, concorda que o grande desafio do mercado de café é a falta de transparência e o alto grau de incerteza em relação às estimativas, tanto no tocante à oferta quanto à demanda. No que diz respeito à safra passada, ele observa que as estimativas de produção variam de 50,9 milhões de sacas estimadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) até 64 milhões de sacas calculadas pelas consultorias privadas. A Stone estimou a safra 2022/2023 em 58,9 milhões de sacas.

Maximiliano comenta que a enorme diferença de 13 milhões de sacas nas estimativas da safra passada gera uma desconfiança no mercado e o grande dilema é saber qual volume será colhido em 2023. “Lá fora existem estimativas de uma produção acima de 60 milhões de sacas, mas as cooperativas brasileiras têm defendido que a safra não será tão grande.

“Os cafezais sofreram com falta de chuvas e calor. A safra de 2023 não deve ser tão boa quanto as duas últimas safras”

RENATO GARCIA RIBEIRO,

pesquisador do Cepea/Esalq/USP

Há um consenso de que a safra de 2023 será maior, mas a dúvida é sobre qual o tamanho desse avanço.”

No que diz respeito aos preços, Maximiliano lembra que as cotações estavam em alta no início de 2022, por causa da quebra de safra, e atingiram o pico em fevereiro, quando eclodiu a guerra na Ucrânia, que gerou uma preocupação em relação ao consumo de café, além de impactar na inflação e no crescimento da economia global.

Outro fator que contribui para embaralhar o cenário é a falta de sinalização de preços para entregas futuras. Os cafeicultores estão cautelosos, devido à incerteza em relação à produtividade das lavouras, que em muitos casos não receberam a adubação adequada, por causa da alta dos preços dos fertilizantes. Renato Ribeiro lembra que há dois anos o preço do café beirava os R$ 500 a saca e os produtores realizaram vendas antecipadas por R$ 750 a saca, mas, quando foram entregar, a cotação estava acima de R$ 1 mil.

Maximiliano, da Stonex, afirma que, além da questão do preço, muitos produtores não conseguiram cumprir seus contratos, pois colheram volumes menores que o esperado e enfrentaram dificuldades para preparar o café no padrão de qualidade combinado com os compradores. "Muitos contratos foram renegociados para entrega nas safras seguintes."

SUMÁRIO

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2023-01-31T08:00:00.0000000Z

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

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