Revista Globo Rural

ARROZ E FE∣JÃO

PRODUTOS BÁSICOS DA MESA DOS BRASILEIROS, O ARROZ E O FEIJÃO PERDEM EM COMPETIVIDADE PARA AS CULTURAS DE EXPORTAÇÃO, PRINCIPALMENTE A SOJA

por VENILSON FERREIRA

AS PERSPECTIVAS DE CURTO PRAZO SÃO DE ALTA nos preços do arroz e do feijão, dois produtos básicos das mesas dos brasileiros, apesar das quedas de produção e redução do consumo registradas nos últimos anos. O pesquisador Lucílio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), observa que a produção de arroz estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2022/2023 é a menor em 21 anos.

Segundo ele, a retração de 20% na área cultivada com arroz no Rio Grande do Sul nos últimos cinco anos se deve ao avanço do cultivo de soja, provocada pela alta dos custos de produção e pela melhor rentabilidade proporcionada pela oleaginosa. A maior diminuição no cultivo de arroz pelos produtores gaúchos ocorreu na safra atual, com uma perda de área de 9,9%.

Mesmo com a menor oferta, a expectativa para esta safra é de um excedente de arroz da ordem de 3 milhões de toneladas. O consumo interno do cereal, que atingiu 12,5 milhões de toneladas na safra 2012/2013, na atual temporada é estimado em 10,6 milhões de toneladas.

Lucílio Alves comenta que a queda no consumo de arroz é uma tendência mundial, provocada pela substituição por produtos alternativos, como as massas, incentivada pelos menores preços do trigo.

Ele cita os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que apontam para uma redução de 2,3% na produção mundial de arroz beneficiado na safra 2022/2023 em relação à anterior, somando 503,3 milhões de toneladas.

Os preços do arroz só não recuaram devido ao aumento das exportações brasileiras, que de janeiro a novembro do ano passado somaram 1,91 milhão de toneladas, o maior volume anual da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), iniciada em 1977.

A exemplo do cultivo do arroz, a produção de feijão também perde em competividade para as culturas de exportação, principalmente a soja. Nos últimos 15 anos, a área de feijão encolheu 33% e a produção recuou em 15%, graças a uma pequena melhora na produtividade.

Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), explica que a melhora na produtividade se deve aos avanços em

“A produção de arroz estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento para a safra 2022/2023 é a menor em 21 anos”

LUCÍLIO ALVES,

pesquisador do Cepea

tecnologia, como novas cultivares e o plantio de sementes certificadas em algumas regiões, como em São Paulo, onde o rendimento é de 2.348 quilos por hectare, bem acima da média nacional, que é de 1.036 quilos por hectare.

No entanto, diz ele, a maioria dos produtores brasileiros ainda semeia os grãos colhidos em suas lavouras, em vez de comprar sementes de novas variedades desenvolvidas pela pesquisa e comercializadas pelas sementeiras. Lüders calcula que apenas 10% das sementes plantadas no país são certificadas.

Além da maior produtividade, as novas variedades de feijão carioca estão fazendo a diferença no mercado, por permitir maior tempo de armazenagem sem perder suas características, principalmente a cor, que é um fator que influencia o consumo.

Segundo Lüders, até alguns anos o preço do feijão carioca caía 50% entre a colheita e a comercialização, por causa do escurecimento dos grãos. A alta de preços atual ocorre justamente porque parte dos produtores está escalonando as vendas. Ele acredita que os preços devem se manter em alta no primeiro quadrimestre e tendem a ceder com a entrada da segunda safra no mercado.

SUMÁRIO

pt-br

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

2023-01-31T08:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/281655374215908

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.