Revista Globo Rural

SOJA

PRODUÇÃO MUNDIAL DEVE CRESCER MAIS QUE A DEMANDA E, POR ISSO, A COMERCIALIZAÇÃO TENDE A SER MAIS LENTA NESTA SAFRA, O QUE VEM SE CONFIRMANDO

Por WILHAN SANTIN

Vedete do agronegócio brasileiro, a soja consolida cada vez mais o seu espaço na safra de verão, impulsionada pelos bons preços internacionais e pela tendência de os produtores cada vez mais semearem o milho como segunda safra, após a colheita da oleaginosa. A área ocupada pela soja no Brasil cresce a cada ano: saltou de 36,9 milhões de hectares, na safra 2019/2020, para 43,4 milhões de hectares, na safra que está sendo colhida neste início de 2023. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no levantamento de safra divulgado em dezembro, estimou produção recorde de 153,4 milhões de toneladas de soja nesta temporada, volume 22% superior à safra anterior.

Diretor comercial da Coamo, a maior cooperativa do ramo agro da América Latina, Rogério Trannin de Mello analisa as tendências do mercado para a soja com a experiência de quem atua há 24 anos na gigante com sede em Campo Mourão, no Paraná.

“Haverá um grande incremento de soja no mercado, com o Brasil produzindo quase 30 milhões de toneladas a mais do que na última safra. No total, a produção mundial terá acréscimo de 35,6 milhões de toneladas. Como a estimativa de aumento de consumo é de 17,5 milhões de toneladas, os estoques crescerão. Se tudo isso for vendido rapidamente, o preço cairá. Então, a comercialização tende a ser lenta. Somamos a isso o câmbio volátil, com o dólar flutuante, e concluímos que é impossível dizer com segurança se os preços vão cair ou subir”, destaca Trannin de Mello.

O mercado chinês, com o fim da política de grandes restrições para o combate à Covid-19, deve consumir mais, ajudando a alavancar as exportações brasileiras, que ficaram próximas de 80 milhões de toneladas em 2022. A Conab estima que 96,5 milhões de toneladas de soja da atual safra serão exportadas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta um crescimento mundial de 4,8% no consumo de soja em comparação com 2022.

“Qual será a consequência da abertura chinesa? Ainda é cedo para responder. Para o sojicultor brasileiro, olhando para 2024 e considerando os fatores imponderáveis, o importante é travar antecipadamente os custos de produção e estar muito atento às práticas sustentáveis. Isso já é imperativo para o presente e vai nos dar cada vez mais competitividade para o futuro. O mundo quer uma soja que deixe um rastro de coisas boas, e

“O importante é travar antecipadamente os custos de produção e estar muito atento às práticas sustentáveis”

ROGÉRIO TRANNIN DE MELLO, diretor comercial da Coamo

não de devastação. Não pode haver desmatamento para o plantio, os direitos trabalhistas e à propriedade devem ser respeitados, a pegada de carbono deve ser observada ”, diz o diretor comercial da Coamo.

Em relação ao clima, depois de três anos de La Niña, fenômeno causado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico na região equatorial, provocando secas no Sul do Brasil e excesso de chuvas no

Norte e no Nordeste, a safra 2023/2024 deve ser plantada sob a influência do El Niño, que ocorre quando há aquecimento das águas do Pacífico Equatorial e gera o efeito contrário no Brasil, com mais chuvas no Sul, onde estão importantes Estados produtores de soja.

As boas notícias do clima animam o agricultor José Roberto Simões. Aliando o otimismo a técnicas apuradas de manejo, ele planta em 290 hectares, dos quais 242 são arrendados, em Tamarana, no norte do Paraná. No verão, dedica toda a área à soja. No inverno, planta milho, trigo e aveia, privilegiando a rotação de culturas.

Neste mês, está com as colheitadeiras no campo, estimando colher 74 sacas de 60 quilos de soja por hectare. Não faltou e nem houve excesso de chuvas na região onde Simões trabalha.

SUMÁRIO

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2023-01-31T08:00:00.0000000Z

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