Revista Globo Rural

Importação de fertilizantes atinge recorde em 2021

OS ENTRAVES LOGÍSTICOS PROVOCADOS PELA PANDEMIA DE COVID-19 ACENDERAM O SINAL DE ALERTA SOBRE A NECESSIDADE DE REDUZIR A DEPENDÊNCIA DE MATÉRIA-PRIMA IMPORTADA

por ANA CECÍLIA KRETER e RAFAEL PASTRE

DE JANEIRO A JULHO DE 2021, o Brasil importou 20,5 milhões de toneladas de adubos e fertilizantes, volume 14% superior em relação ao mesmo período de 2020 e 31% maior que em 2019. Esse recorde já era esperado. Mesmo com as adversidades climáticas ocorridas nos últimos meses, o Brasil tem se destacado no mercado mundial como um dos principais produtores e exportadores de commodities agropecuárias. É praticamente impossível analisar os fluxos comerciais de soja, milho, algodão, café, açúcar e carnes sem destacar o protagonismo do país. Mas o que está por trás de todo esse sucesso?

Segundo Guilherme Soria Bastos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, “a incorporação da tecnologia é chave para o desempenho do setor. Mas boa parte dos insumos são importados e representam um parcela significativa dos custos de produção das cadeias produtivas do agro”. E é justamente esse custo que vem preocupando o produtor rural. A lista de agroquímicos importados pelo Brasil é grande, mas a maioria entra como matéria-prima para a indústria de adubos e fertilizantes. Apesar da variedade das formulações para serem incorporadas nas lavouras, três destacam-se na pauta – ureia, monoamônio fosfato (MAP) e cloreto de potássio –, os famosos NPK, que representam 62% do total importado.

Os dados mais recentes da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) sinalizam que o Brasil importou 78,4% do seu consumo aparente nos três primeiros meses de 2021. Bastos alerta que “se considerarmos os estoques de passagem, a disponibilidade existente atende ao mercado por alguns meses, e o não abastecimento pode gerar disrupção na cadeia produtiva”, o que é um cenário preocupante para o agro brasileiro.

A grande questão é que, para produzir esses fertilizantes, é necessário ter recursos naturais que não estão disponíveis no Brasil nos níveis demandados pelo agronegócio. Na busca de alternativas, o governo federal criou, em março de 2021, uma equipe interministerial para elaborar o Plano Nacional de Fertilizantes (Decreto no 10.605/2021).

O trabalho ainda está no início, mas a proposta é analisar os mercados nacional e internacional de insumos de fertilizantes, acompanhar o gerenciamento e apontar alternativas para o aumento da produção e abastecimento desses produtos no país. De forma clara, o governo federal pretende criar ações propositivas para superar a dependência do setor de fertilizantes. É uma proposta ambiciosa, mas necessária, em um momento de adversidade como o que estamos passando agora. Um estudo publicado recentemente pelo Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez uma proxy desse grau de dependência a partir dos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O cálculo considera a oferta doméstica de nitrogênio (N), fosfato (P205) e potássio (K20), a participação da im

portação nesse total de NPK ofertado e o uso de cada país para fins agrícolas. O grupo constatou que, além do agro brasileiro ser o segundo maior importador de NPK do mundo, é o que mais o utiliza para fins agrícolas.

O estudo ainda mostra que, no caso do Brasil, o setor conta com patamares cada vez mais elevados dos preços médios pagos pelo importador. Apenas o cloreto de potássio (K) apresentou queda nos preços médios (em dólar) de janeiro a julho de 2021 em comparação a 2020. Os outros dois tiveram altas significativas, a saber: ureia, N, (32%) e monoamônio fosfato, P, (59%). Se considerarmos os preços médios em reais, o custo para o importador foi ainda maior, tendo em vista a crescente desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.

Um dos desafios dos produtores brasileiros para a safra 2021/2022 será assumir esses custos e colocar seu produto no mercado a preços competitivos.

CLORETO DE POTÁSSIO outros cloretos de potássio (Nomenclatura Comum do Mercosul NCM 31042090)

UREIA ureia, mesmo em solução aquosa, com teor de nitrogênio (azoto) superior a 45%, em peso, calculado sobre o produto anidro no estado seco (NCM 31021010) MONOAMÔNIO FOSFATO (MAP) Diidrogeno-ortofosfato de amônio (fosfato monoamônico ou monoamoniacal), mesmo misturado com hidrogeno-ortofosfato de diamônio (fosfato diamônico ou diamoniacal) (NCM 31054000)

ANÁLISE I INSUMOS

pt-br

2021-09-02T07:00:00.0000000Z

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https://revistagloborural.pressreader.com/article/282149294417709

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