Revista Globo Rural

IDEIAS

FONTES ALTERNATIVAS DE ALIMENTO SÃO SEMPRE MUITO BEMVINDAS, ESPECIALMENTE QUANDO REVISITAMOS O DESAFIO PARA ATENDER AO CRESCIMENTO DA DEMANDA FUTURA

Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

Está surgindo no mercado uma linha de alimentos alternativos que mimetizam produtos de origem animal: são os autodenominados "plant-based”. São produtos que, apesar de serem estritamente vegetais, utilizam referências de origem animal nas suas características organolépticas e, especialmente, no nome.

Eles estão no mercado com rótulos chamativos de carne de boi, de frango, manteiga, leite, iogurte, creme de leite, maionese – todos produzidos somente com vegetais. A diversidade de produtos tem aumentado, contando, inclusive, com o envolvimento de gigantes do setor alimentício. Mas você pode estar estranhando: como assim carne e leite vegetais?

A apropriação de nomes de alimentos naturalmente consagrados por sua origem animal levantou grandes discussões, inclusive na esfera governamental. Tanto que o Ministério da Agricultura disponibilizou uma tomada pública de subsídios para captar e entender a percepção da população sobre o assunto (http://sistemas. agricultura.gov.br/agroform/index. php/345584?lang=pt-BR).

À parte a questão da autodenominação desses produtos, fontes alternativas de alimento são sempre muito bem-vindas, especialmente quando revisitamos o desafio de atender ao crescimento da demanda futura, estimado em 70% até 2050.

Nesse sentido, palmas para os plant-based e suas tecnologias inovadoras. No setor dos produtos “lácteos vegetais”, usando a castanha-de-caju, obtém-se o chamado leite molecular, e a partir dele, usando as mesmas bactérias que fermentam o leite natural, são produzidos queijos, iogurtes, dentre outros produtos.

Há também a proposta da substituição do ovo de galinha na fabricação de pães, bolos e sorvetes a partir do uso de uma proteína do grão-de-bico. Isso sem falar na vasta linha de hambúrgueres vegetais.

E o que diz a ciência? Os plant-based equivalem à carne e ao leite tal qual a natureza os criou? Um estudo publicado na revista Nature vem em nosso auxílio (disponível em https://www.nature.com/articles/s41598-021-93100 3). No estudo, foram comparados produtos plant-based com carne bovina moída natural.

Os autores verificaram uma diferença de 90% entre as proteínas do metabolismo desses produtos. Quando comparadas, a carne natural apresentou 190 metabólitos (moléculas funcionais resultantes da digestão dos alimentos), sendo que os plant-based não sintetizaram 171 delas.

Além disso, 22 nutrientes estavam presentes somente na carne bovina e 15 tiveram níveis menores nos plant-based. Por outro lado, os produtos plant-based apresentaram outros 31 nutrientes de forma exclusiva e outros 67 em maiores quantidades.

Os resultados levaram os autores a concluir que plant-based e produtos de origem animal não são substitutivos um do outro, mas podem ser considerados complementares do ponto de vista nutricional.

Em outras palavras, nada é perfeito, e nossa dieta deve seguir sendo equilibrada e onívora. Quanto aos nomes dos produtos plant-based, particularmente considero-os impróprios e até enganosos para os consumidores. Já que têm seus próprios méritos, eles não precisam desse artifício.

SUMÁRIO

pt-br

2021-09-02T07:00:00.0000000Z

2021-09-02T07:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/282123524613933

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