Revista Globo Rural

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SECA E GEADA SOMARAM-SE EM PLENA TRAGÉDIA DA PANDEMIA PARA ASSOMBRAR PRODUTORES RURAIS, DISTRIBUIDORES DE ENERGIA E CONSUMIDORES DE ALIMENTOS E ELETRICIDADE

Seca prolongada e geada rigorosa somaram-se em plena tragédia da pandemia para assombrar produtores rurais, distribuidores de energia e consumidores de alimentos e eletricidade.

Cafezais de Minas Gerais e de São Paulo foram afetados, e os mais pessimistas afirmam que 20% das árvores não produzirão café em 2022. Tendo o Brasil 30% do mercado mundial, fica clara uma redução da oferta e aumento de preço dessa prazerosa bebida tão identificada conosco.

Para quem não teve prejuízo, uma maravilha, mas, para quem sofreu com a geada, serão dois ou três anos de produção muito baixa, até a recuperação das árvores. E os consumidores pagarão mais caro pelo cafezinho.

Frutas e hortaliças sofreram com o gelo e os preços subiram imediatamente. Tudo relacionado à irrevogável lei da oferta e da procura.

Pastagens queimadas reduzem a produção de proteína animal, já encarecida pela brutal quebra da segunda safra de milho, matéria-prima essencial para as rações. Frangos, suínos, laticínios e até carne bovina ficaram mais caros, sem que o produtor consiga repassar seus custos ao consumidor – e ambos perderam.

Os canaviais do Sul e do Sudeste e de parte do Centro-Oeste, com menos da metade da safra feita, foram duramente atingidos, com reflexos pelos próximos três anos pelo menos. Canas que estavam verdes tiveram de ser cortadas, de modo que a quantidade e a qualidade do material para moagem pioraram muito, sacrificando a produção de 2021 e de anos futuros, com a péssima brotação das soqueiras.

E os níveis das represas de hidrelétricas caíram, anunciando possível escassez de energia se as chuvas demorarem para chegar.

Nesse caso, a tempestade é quase perfeita. Pouca gente sabe, por exemplo, que a cana-de-açúcar responde por 18% da oferta primária de energia no nosso país, perdendo apenas para o petróleo (que representa 34,4% da matriz energética), mas ganhando da energia hidráulica, com 12,4% (com Itaipu, Ilha Solteira, Furnas e todas as outras somadas) e do gás natural, com 12,2%. O etanol de cana substituiu 48% da gasolina consumida aqui em 2020. A bioeletricidade gerada a partir do bagaço e das folhas de cana nas usinas de açúcar e álcool foi superior a 52 mil GWh de energia elétrica que é produzida normalmente na seca, quando as represas das hidrelétricas estão mais baixas. Ou seja: menos bioeletricidade derivada da cana por causa da dupla seca/geada se soma a menos água nas barragens devido à estiagem.

Resumo muito ruim: a pandemia trouxe a perda de mais de meio milhão de vidas, destruiu empresas e empregos, a economia escorregou, com 14 milhões de desempregados, a seca e a geada diminuíram ou destruíram plantações importantes e a renda de milhares de produtores rurais, a energia elétrica teve aumento de preços porque foi preciso ligar as termoelétricas (mais caras) e os consumidores todos, já abatidos com o desemprego, são abalados por maiores custos de alimentos e de energia.

De quem é a culpa? De São Pedro? Das vacinas ou sua falta? Dos governos? Das leis de mercado? De todos esses e mais alguns?

Vai saber! Mas com certeza são temas muito mais importantes do que a urna eletrônica.

SUMÁRIO

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2021-09-02T07:00:00.0000000Z

2021-09-02T07:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/281848646706989

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