Revista Globo Rural

FÓRUM

FÓRUM FUTURO DO AGRO, EM SUA 1ª EDIÇÃO, REUNIU CIENTISTAS, PRODUTORES, EMPRESAS, ONGS E LIDERANÇAS PARA DISCUTIR OS POTENCIAIS DO SETOR E O PAPEL DO BRASIL NA NOVA ECONOMIA VERDE

por RAPHAEL SALOMÃO fotos ROGERIO ALBUQUERQUE

Não há como falar sobre agropecuária nos dias de hoje sem falar em sustentabilidade. Se, por um lado, o setor está listado entre os principais emissores de gases de efeito estufa, por outro, é visto como um dos principais agentes de mudança rumo a uma economia verde, com produtividade, eficiência, lucratividade e respeito às pessoas e ao ambiente.

Consumidores cada vez mais exigentes têm levado o setor a avaliar como as cadeias produtivas caminham para uma agenda ESG (ambiental, social e governança) e que oportunidades podem ter com isso.

Esses foram alguns assuntos discutidos no dia 20 de outubro, em São Paulo (SP), no 1o Fórum Futuro do Agro, realização da revista GLOBO RURAL com o Imaflora. Agricultura de baixa emissão, mercado de carbono, novas tecnologias e crédito verde estiveram em debate por produtores, cientistas, consultores, executivos de empresas, ONGs e outros agentes e lideranças ligadas ao setor agropecuário.

“Sabemos que o agro mundial é um grande emissor de gases de efeito estufa. E qual setor não é? Mas, quando olhamos para as diversas iniciativas na produção brasileira, enxergamos uma bela e gigantesca nascente de soluções”, disse o editor-chefe da GLOBO RURAL,

Cassiano Ribeiro, na abertura do evento.

A diretora executiva do Imaflora, Marina Piatto, ressaltou a importância de se falar do tema às vésperas da próxima Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 27). “Temos um curto espaço de tempo para implantar em larga escala toda uma estrutura ao redor do mercado de carbono agrícola”, alertou.

Em um dia dedicado a discutir o agro que queremos para o futuro, cerca de 200 pessoas acompanharam os paineis. Os debates reuniram 37 painelistas, que levaram o público a uma verdadeira imersão nos principais pontos de discussão sobre a sustentabilidade na agropecuária.

Agricultores e pecuaristas foram protagonistas e compartilharam, no palco, as boas práticas aplicadas com sucesso em suas propriedades rurais. E destacaram como uma visão conservacionista da produção pode contribuir para preservar o meio ambiente e trazer mais credibilidade e ganhos financeiros para os negócios.

Especialistas e representantes dos demais elos da cadeia produtiva colocaram em debate suas visões sobre métodos, técnicas e o caminho mais verde a ser percorrido pelo agronegócio. Esse trajeto passa por ações como melhoramento genético, integração lavoura-pecuária (ou lavoura-pecuária-floresta), manejo integrado e eficiência, bem-estar animal e adoção de processos reconhecidos de medição de emissões.

Mas não se pode ignorar que há custos. E o 1o Fórum Futuro do Agro não deixou o tema de lado. Especialistas e executivos de empresas e startups destacaram a necessidade de dar escala a projetos para serem mais atrativos aos investidores. Destacaram ainda a necessidade de crédito de longo prazo para financiar esses projetos.

E, sendo fundamental no desenvolvimento de uma agropecuária mais sustentável, a ciência também esteve em discussão. No painel que encerrou o evento, recebeu destaque o baixo investimento em pesquisa no Brasil.

O cientista Eduardo Assad, professor do Núcleo de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), defendeu que o setor privado “coloque a mão no bolso” para incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico. “Já passou da hora do setor agro investir em quem os deixou ricos: na pesquisa, na ciência”, disse.

Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, sugeriu uma mudança de Plano ABC para Plano Safra ABC, com toda a estrutura de crédito rural atrelada a metas de sustentabilidade e redução de emissões de gases de efeito estufa.

O Fórum Futuro do Agro teve patrocínio de Minerva Foods, MyCarbon, JBS, Bayer, Marfrig e Rede ILPF, com suporte da agência LVBA no design do projeto. Além das equipes de eventos e marketing da Editora Globo.

O jornalismo da GLOBO RURAL produziu mais de 14 reportagens e entrevistas em texto e vídeo. Apenas os vídeos registraram cerca de 80 mil visualizações em menos de 24 horas. Todo o conteúdo do Fórum Futuro do Agro está no site da GLOBO RURAL e nas redes sociais.

Lá se vão 27 anos de trabalho, literalmente, no campo. O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) é uma ONG que atua nas áreas agrícolas, pecuárias e florestais, em questões ligadas ao ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) desde quando essa denominação sequer existia. “Quando se começou a falar em ESG, até nos perguntamos – será que é isso que já fazemos há tantos anos?”, lembra Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora. Fato é que, desde a sua criação, a instituição vem trabalhando para mostrar aos produtores rurais que é possível produzir e conservar ao mesmo tempo. “Buscamos soluções para a conservação de florestas e o desenvolvimento da agropecuária, sempre garantindo a sustentabilidade, a legalidade e a manutenção do clima”, afirma Marina.

Para entender melhor como o Imaflora trabalha cada um dos pontos do ESG, a diretora executiva explica que, no aspecto ambiental, o foco é a floresta em pé. Para isso, a organização realiza diagnóstico, monitoramento e verificação de dados sobre biodiversidade, recursos hídricos, controle da emissão de carbono, entre outros tópicos. A partir daí estuda alternativas para eliminar o desmatamento e subsidiar o manejo dos produtos madeireiros e não madeireiros (óleos, extratos, sementes, castanhas, mel, frutas, etc.).

No campo do social, o Imaflora analisa os dados relacionados à manutenção dos direitos humanos (checando se há questões como trabalho infantil e/ou análogo à escravidão) e trabalhistas (relacionados sobretudo aos trabalhadores agrários). Ou seja, se os profissionais atuam em boas condições e com respeito às leis.

Por fim, quando se trata de governança, a ONG dá suporte para que

a empresa faça uma boa gestão da propriedade e tenha processos de melhoria contínua em longo prazo.

Com o crescimento das exigências do mercado por maior responsabilidade socioambiental nas cadeias produtivas, o Imaflora vem sendo procurado cada vez mais pelas empresas que desejamse adequar ao ESG. “Há pouco tempo, grande parte do nosso volume de trabalho tinha a ver com ferramentas de certificação, como a FSC , por exemplo [principal sistema de certificação florestal do mundo que comprova que a matéria-prima utilizada em produtos de origem florestal é proveniente de área manejada de forma ecologicamente correta e em condições justas de trabalho]. Nos últimos dois anos, inclusive, esse tipo de negóciocresceu cercade10%. Masnada comparável ao aumento da demanda em relação aos serviços customizados de ESG, que triplicou nesse período”, conta Marina.

Sob medida

Um dos projetos de grande expressão conduzido pelo Imaflora é o ELOS Raízen, desenvolvido em parceria com a empresa, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do país. É um programa que, entre outros pontos, trabalha a melhoria contínua de dois mil fornecedores que representam cerca de 50% da cana processada pela empresa. O Imaflora atua no mapeamento deles, fazendo o levantamento do contexto socioambiental em que trabalham, além de cuidar da melhora das condições de saúde e segurança de quem colhe a cana, e de facilitar as relações entre produtores, trabalhadores e usinas sucroalcooleiras. “O projeto ELOS Raízen foi uma revolução no setor sucroalcooleiro. O impacto foi tamanho que passou a inspirar outras usinas.”

A Nestlé ta m bém bu scou o Imaflora para uma parceria no P rog ra ma Nes presso A A A de Qualidade Sustentável . Entre as ações, o Imaflora treina os técnicos que vão a campo implementar os padrões de sustentabilidade, e faz auditorias nas fazendas fornecedoras para que elas atinjam os requisitos de ESG. Isso ocorre no Brasil e mundo afora. “Assim, os produtores são validados para fornecer o café para a Nespresso”, explica.

E se na área agrícola são inúmeras as soluções customizadas, no setor florestal não é diferente. Um dos clientes de destaque do Imaflora, e também o mais antigo, é a Mil Madeiras, do grupo suíço Precious Wood. “A gênese do Imaflora é o manejo florestal. Nascemos quando ainda achávamos que não podíamos usar a floresta, que tínhamos de cercá-la para preservá-la”, lembra Marina. O conceito aplicado pela organização juntamente à Mil Madeiras veio para ressignificar essa visão. A ONG mostrou, com apoio de pesquisadores e especialistas, que ao realizar o manejo bem-feito da floresta, extraindo apenas algumas árvores e empregando técnicas de impacto reduzido, é possível não apenas mantê-la em pé, mas oferecer condições para que se regenere ao longo dos anos. “O manejo florestal sustentável é a prova da conservação por meio do uso”, conclui Marina.

Tecnologiaetransparência

Para viabilizar tantos projetos, o Imaflora conta com tecnologia de ponta, que inclui drones, geoprocessamento, plataformas para acompanhamento em tempo real de KPIs, além de projetos com a Nasa e a participação em grandes discussões internacionais, como COP – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Além disso, busca atualização e inovação constante, como o último lançamento, o Carbon On Track (www.imafloraservicos.org/carbonontrack), concebido para valorizar empreendimentos agropecuários, de restauração florestal e projetos da sociobiodiversidade que estão reduzindo suas emissões de gases de efeito estufa e removendo carbono.

Se o agro e as florestas brasileiras são referência para o mundo, cuidar para que se adequem ao ESG é um passo fundamental. Os produtores entendem a necessidade: é preciso produzir com eficiência, caso contrário, perde-se dinheiro. E estar em conformidade com boas práticas ambientais, sociais e de governança é essencial para chegar lá. “Temos todas as soluções na mesa, mas precisamos da parceria público-privada, de estratégias integradas e competitivas, e de escala para atingir o nível de sustentabilidade necessário, que inclui, entre outros pontos, a manutenção da temperatura no mundo. A humanidade está em jogo, e só vamos conseguir cumprir nossas metas com a cooperação de todos”, diz.

Para debater soluções sustentáveis no campo, Globo Rural e Imaflora realizaram, em outubro, o 1º Fórum Futuro do Agro, com a participação de grandes empresas do setor agropecuário.

SUMÁRIO

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2022-11-01T07:00:00.0000000Z

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