Revista Globo Rural

VINHOS DA COPA

VINÍCOLAS APOSTAM NO AUMENTO DO CONSUMO DE VINHOS E ESPUMANTES DURANTE O TORNEIO MUNDIAL DE FUTEBOL, COM LANÇAMENTOS DE EDIÇÕES ESPECIAIS

Por ELIANE SILVA

ASELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL estreia na Copa do Mundo do Catar em 24 de novembro, uma quinta-feira, às 16 horas, contra a Sérvia, com a expectativa de conquistar uma boa vitória para iniciar com o pé direito a jornada pelo sexto título mundial. No Brasil, craques aposentados, vinícolas e especialistas do setor já colocaram em campo suas apostas para elevar as vendas de vinhos, especialmente os espumantes, incentivados pelo expressivo aumento de torcedores que já não consideram a cerveja como a única bebida que harmoniza com o futebol.

Em setembro, duas vinícolas gaúchas lançaram séries especiais da Copa com venda limitada. A Jolimont, instalada no Vale do Morro Calçado, em Canela, colocou à venda mil caixas da Coleção Grandes Conquistas, que contém seis garrafas de seus vinhos Moscatel premiados com medalha de ouro no exterior, evocando cinco grandes vitórias da seleção canarinho no Mundial e a esperança do sexto título.

Os rótulos representam as Copas de 1958 (clássica foto de Pelé chutando a bola), 1962 (o retratado é Garrincha), 1970 (Pelé e Jairzinho abraçados), 1994 (homenagem à camisa amarelinha) e 2002 (Ronaldo, o Fenômeno). A sexta garrafa, com seis estrelas, se refere à esperada conquista do hexa.

“A Copa do Mundo sempre foi um período especial para o Brasil, nos traz boas lembranças. O espumante Moscatel também é um símbolo de orgulho nacional, por ser premiado internacionalmente pela qualidade e pela originalidade. A ideia foi unir as duas coisas e ainda oferecer ao consumidor um pouco de arte e uma lembrança das conquistas nos rótulos”, diz Marçal Duarte Velho, diretor da vinícola, acrescentando que é a primeira vez que a empresa promove um lançamento associado ao futebol.

A ação foi precedida de pesquisa com os consumidores da marca neste ano, na qual se identificou que o vinho, especialmente o espumante, está muito presen

te nos brindes e comemorações durante as reuniões de amigos e familiares para assistir às partidas de futebol.

O lançamento da vinícola Casa Perini, de Farroupilha, na Serra Gaúcha, traz três espumantes com rótulos alusivos à Copa. Uma garrafa remete a Pelé na Copa do tricampeonato, em 1970, outra traz a camisa verde do goleiro Taffarel no tetra, em 1994, e a terceira vem com a camisa 11, de Romário, também lembrando a conquista do quarto título mundial pelo Brasil.

Pablo Perini, CEO da empresa, diz que escolheu o moscatel premiado entre os cinco melhores do mundo em 2017 pela Associação Mundial de Escritores e Jornalistas de Vinhos e Destilados (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits) para promover a primeira campanha ligada ao futebol da vinícola fundada por seu pai, Benildo.

A Casa Perini produz vinhos com indicação de procedência (IP) reconhecida pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV ) e tem uma plantação de uva moscato branca, que já está extinta na Europa, de onde se originou. “Sabemos que o futebol é uma paixão nacional. O vinho, especialmente o espumante, trilha o mesmo caminho. Vivemos tempos de democratização dessa bebida no Brasil, de quebra de estigmas e de fim de preconceitos de que vinho só se consome em ocasiões festivas como Natal e Ano-Novo.”

A vinícola tem capacidade de produção de 16 milhões de litros por ano e oferece mais de 90 itens de produtos derivados da uva, entre eles a linha premium, vinhos finos e espumantes, vinhos tintos e sucos de uva integrais.

A democratização do vinho citada por Pablo Perini é um dos mantras atuais repetidos pelo setor. Diego Bertolini, fundador da EducaVinhos e ex-diretor do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), calcula que 12 milhões de brasileiros migraram nos últimos anos para o consumo da bebida. “Acabou o estereótipo de que vinho é apenas para jantares românticos ou festas. Os brancos, rosés e espumantes combinam muito bem com futebol”, diz Bertolini, citando que as novas embalagens, como latas e bags, ajudaram nesse processo. Segundo ele, na Copa se vende muita carne, e o vinho combina bem mais com churrasco do que a cerveja.

Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting, concorda e diz que o brasileiro acima de 18 anos consumiu 2,64 litros per capita de vinho em 2020, no isolamento social da pandemia de Covid-19, um aumento de mais de 30%. No caso dos espumantes, o consumo foi ainda maior: 2,78 litros.

Ele aponta que houve uma queda em 2021, para 2,46 litros (2,64 litros nos espumantes), mas o brasileiro, em geral, e não apenas os integrantes da elite, descobriu o prazer de tomar vinho, e a bebida passou a fazer parte também dos encontros de amigos e comemorações no futebol.

O estímulo ao consumo, segundo os dois especialistas, vem de vários influencers, entre eles jogadores e ex-jogadores famosos, como Neymar, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Felipe Melo e Hulk, que passaram a postar fotos e vídeos nas redes sociais degustando a bebida. Antes deles, o ex-goleiro Taffarel se tornou importador de vinhos e o principal narrador dos jogos da seleção na TV Globo, Galvão Bueno, abriu uma vinícola no Rio Grande do Sul.

“Essa associação com o futebol incentiva ainda mais o consumo da bebida. E essa Copa do Catar, realizada extraordinariamente no final do ano, tende a estimular o consumo dos espumantes moscatel, que são os preferidos do brasileiro, pelo teor maior de açúcar”, afirma Felipe Galtaroça.

O consultor apresentou números do setor no final de setembro, na Wine South America, em Bento Gonçalves (RS). De janeiro a julho deste ano, a venda de espumantes nacionais cresceu 31% no Brasil, na comparação com o mesmo período do ano passado, e a comercialização do importado aumentou 12%. O espumante nacional representa 80% das vendas. Já a venda de vinhos finos nacionais caiu 31% e a de importados, 5%.

Na feira que é considerada a maior do setor na América Latina, o ex-jogador da seleção uruguaia e do São Paulo Diego Lugano apresentou três vinhos (tinto, branco e rosé) que trazem sua assinatura e foto. A bebida premium é produzida pelo italiano Fabio Cordella, dono de uma vinícola centenária na região de Puglia, que criou a coleção Vinho dos Campeões, que traz nos rótulos grandes destaques do futebol mundial.

Além de Lugano, firmaram parceria com Cordella os craques brasileiros Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Amoroso e Cafu, o chileno Ivan Zamorano, o holandês Wesley Sneijder e o inglês John Terry, entre outros. O carro-chefe da coleção é formada pelos vinhos assinados por Ronaldinho Gaúcho, que tem clássicos como um chianti e um brunello de Montalcino.

Cordella, apaixonado por futebol, foi ex-jogador de vários clubes europeus e chegou a jogar pela seleção italiana, mas teve de deixar a carreira precocemente, devido a um erro médico em uma cirurgia, segundo o escritor Will Conceição, brasileiro radicado nos EUA que lançou o livro “The skills of the champion” ("As habilidades do campeão"), contando a história de Cordella. Conceição diz que o livro inspirou uma série, que vai ser lançada em breve pela Netflix.

A coleção Vinho dos Campeões foi iniciada há mais de quatro anos, quando Cordella deixou também a carreira de diretor esportivo de clubes da Europa. “Ele teve uma visão: ‘Já que não tenho o time dos meus sonhos, vou criar meu próprio time’”, conta Conceição, acrescentando que o italiano usa a influência que teve no mundo do futebol e a história de mais de 150 anos de sua família na elaboração de vinhos finos para firmar parceria com os grandes astros, que recebem royalties.

Todos os jogadores homenageados visitam a vinícola em Puglia e escolhem vinhos de sua preferência para assinar. Recentemente, um evento de promoção da coleção na Bélgica lotou graças à presença de Ronaldinho Gaúcho. As garrafas custam no Brasil de R$ 400 a R$ 600.

Muitos times de futebol da Europa também têm vinhos associados ao seu nome, que são comercializados com exclusividade nos estádios. É o caso da parceria entre a vinícola chilena Concha Y Toro, produtora do vinho Casillero del Diabo, e o time inglês Manchester United, também chamado de red devil (diabo vermelho). No Brasil, um clube mantém há muitos anos uma associação com vinícolas da sua região. O Esportivo de Bento Gonçalves, que acaba de subir para a série A do Campeonato Gaúcho, disputa suas partidas no estádio Montanha dos Vinhedos e tem um espumante brut e um moscatel com seu nome no rótulo. Neste ano, a equipe, que já teve o patrocínio da Vinícola Aurora em sua camisa, alterou o escudo para o formato de uma taça de vinho, visando rejuvenescer a marca e sinalizar a forte ligação entre o time e o vinho.

“Temos muito orgulho do Esportivo e da bebida produzida na capital nacional do vinho. Queremos que os milhares de turistas que visitam nossa cidade levem de lembrança a camisa do clube e os vinhos associados ao time”, diz Cleocir Glowacki, presidente do clube, ressaltando que ele toma tanto vinho quanto um argentino (mais de 30 litros por ano) e ajuda a elevar a média per capita de consumo no Brasil.

Na Copa de 2014, realizada no Brasil, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) escolheu o vinho Faces, produzido na Serra Gaúcha, como bebida oficial. O vinho da Copa foi elaborado com 11 uvas (merlot, cabernet sauvignon, teroldego, touriga nacional, tannat, ancellotta, nebbiolo, tempranillo, pinot noir, alicante bouschet e malbec) de forma a homenagear os 11 titulares da seleção.

Na Copa da Rússia, em 2018, foi selecionada o champagne francês Taittinger, que criou uma edição limitada, com rótulo especial, nas cores azul e cinza, que remetiam às conquistas russas no espaço. No Mundial da África do Sul, em 2010, o vinho certificado pela Fifa foi o Twenty 10, da vinícola Nederburg, que tem mais de 200 anos de tradição, apresentado em três versões: tinto, branco e rosé.

Neste ano, embora a Fifa anuncie em seu site que haverá cervejas, champanhe, vinhos selecionados por sommeliers e destilados premium de fluxo livre nas suítes VIP dos estádios, deve haver restrição até para o consumo de cerveja, já que o Catar é um país muçulmano com controles rígidos sobre o álcool.

“A Copa do Catar realizada no final do ano tende a estimular o consumo dos espumantes moscatel”

FELIPE GALTAROÇA, CEO da Ideal Consulting

SUMÁRIO

pt-br

2022-11-01T07:00:00.0000000Z

2022-11-01T07:00:00.0000000Z

https://revistagloborural.pressreader.com/article/281535114935279

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.