Revista Globo Rural

FAZENDA SUSTENTÁVEL

CONSÓRCIO LIDERADO PELA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV) VAI ELABORAR UMA CALCULADORA DE EMISSÃO DE CARBONO APLICADA À PECUÁRIA NACIONAL E MECANISMOS PARA ESTIMULAR INVESTIMENTOS NA ÁREA

por VIVIANE TAGUCHI

Calcular as emissões de gases de efeito estufa na produção agropecuária é um dos maiores desafios da atividade, principalmente porque o custo pode ser maior do que o valor do crédito de carbono gerado a partir dele. Com respaldo governamental, um consórcio liderado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) pretende atuar nessa área e assim elaborar estratégias e modelos de negócios que adotem tecnologias de baixo carbono na produção de carne e leite no Brasil. Além do cálculo, a iniciativa visa à certificação das emissões evitadas. Batizado de Pecuária de Baixo Carbono, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o projeto terá, além da FGV, outros parceiros, como Imaflora, Agrotools, WayCarbon, WI e DSM. O projeto foi aprovado após lançamento de edital do BNDES para financiar a sustentabilidade na produção.

De acordo com Bruno Aranha, diretor de crédito produtivo e socioambiental do BNDES, a iniciativa vai criar dois produtos principais, uma ferramenta para análise do ciclo de vida dos produtos, uma espécie de calculadora que mede e certifica as emissões de carbono da cadeia produtiva (desde os insumos até o processamento industrial) e mecanismos de incentivo que estimulem investimentos na redução de emissões, tanto da etapa agrícola quanto na industrialização da carne e leite bovinos.

“De forma geral, o consórcio irá elaborar uma espécie de medidor do grau de emissão de gases pelas fazendas e pontuá-las, do pasto até o prato do consumidor, em relação a quanto foi emitido de gases por aquele produtor”, disse Aranha. “Na segunda fase do projeto, a ideia é criar mecanismos que estimulem estratégias e modelos de negócios voltados para os investimentos de baixo carbono.”

A calculadora será uma ferramenta exclusiva para determinar as emissões de gases de efeito estufa e poderá ser utilizada de várias maneiras ou por políticas públicas, como o Plano ABC ou, ainda, segundo o BNDES, como ferramenta para incentivos financeiros.

O BNDES está ampliando sua atuação na área socioambiental investindo em projetos de médio e longo prazos e reconhece que investimentos em novos modelos de produção agropecuária, incluindo a pecuária, enfrentam dificuldades para obter financiamentos.

“Como instituição financeira, precisamos evoluir no entendimento de novos projetos. Estamos muito acostumados a financiar grandes projetos de monocultura e, quando aparece um sistema agroflorestal, com vários ciclos de receitas diferentes na mesma área, não cabe na nossa planilha”, explicou o executivo. “Cabe a nós compreender e trabalhar em uma escala que faça uma composição de instrumentos para diferentes riscos. Nossa função é desbravar fronteiras.”

Atualmente, já existem técnicas de produção pecuária que permitem neutralizar e até “sequestrar” car

bono, situação em que uma atividade retira mais carbono da atmosfera do que emite.

A agropecuária de baixo carbono é uma das bandeiras da revista GLOBO RURAL. No último dia 23 de outubro, foram encerradas as inscrições para o 7o Prêmio Fazenda Sustentável. Cerca de 60 propriedades, de todos os tamanhos e em várias áreas de atuação, estão sendo avaliadas. As fazendas classificadas seguem para a segunda etapa do premiação, que será anunciada no primeiro trimestre de 2023. Em parceria com Rabobank e Fundação Espaço ECO (FEE), o Prêmio Fazenda Sustentável analisa, em diferentes etapas, critérios ambientais, sociais e financeiros das propriedades, incluindo o ciclo de vida dos produtos e as emissões de carbono de cada atividade.

A análise do ciclo de vida de um produto fornece informações importantes sob o ponto de vista ambiental, social e econômico quanto a aspectos da extração de materiais, formas de produção, necessidade de substitutos de menor impacto, dados quantitativos dos gastos de energia, água, minérios e de outros recursos naturais, além de resíduos gerados na produção, mão de obra envolvida, distribuição, consumo e usos, destinação (reciclagem, descontaminação, descarte, etc.) e impactos ambientais pós-consumo.

Após passarem pela Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), realizada pela Fundação Espaço ECO, as propriedades classificadas passam por uma análise financeira. Na última etapa, as finalistas são visitadas por técnicos do prêmio.

“Quando aparece um sistema agroflorestal, com vários ciclos de receitas diferentes na mesma área, não cabe na nossa planilha”

BRUNO ARANHA, diretor de crédito produtivo do BNDES

SUMÁRIO

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2022-11-01T07:00:00.0000000Z

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